Eu fiz uma turnê no Uruguai lecionando clínicas em Março de 2016 com nosso treinador espanhol David Villegas. Tivemos um dia livre para escalar e nosso anfitrião, Santiago, nos levou para Canteras, um pequeno local para escalar dentro da cidade de Montevidéu. Ele nos mostrou uma via chamada Baño es El Nombre, uma das mais difíceis. Eu a malhei e finalmente consegui desvendar a sequência de movimentos, que incluía um movimento dinâmico a partir de uma entalada de dedos dolorosa. Depois David trabalhou na via, desvendou a sequência e conseguiu encadeá-la rapidamente. Eu pensei: se o David conseguiu, então eu deveria conseguir também. Levei três tentativas, mas eu finalmente consegui a cadena.
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Malhar uma via nos dá a oportunidade de aprender. Experimentamos diferentes formas de usar agarras, aplicar nossas habilidades e buscar novas soluções. Nós caímos e modificamos nossa movimentação até encontrar uma que funcione para nós. É fácil ver como aprendemos com escaladas estressantes e como melhoramos. Caímos, e há uma razão para isso: fizemos, ou deixamos de fazer algo que causou a queda. Eu fiz o seguinte: Eu tentei achar uma sequência para poder fazer o movimento dinâmico a partir de um entalamento de dedo doloroso.
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No entanto, também podemos aprender com as situações que criam conforto para nós. As realizações nos dão uma sensação de conforto. Nossos egos tentam igualar nossos logros com nossa importância. Se conseguimos, nossos egos se sentem importantes; se não, eles criam desculpas para manter sua importância.
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Por exemplo, eu estava lá com David, um escalador forte e jovem, um dos treinadores do meu material. Eu deveria ser o mestre, continuando seu treinamento com o Caminho do Guerreiro. No entanto, ele obteve sucesso na via mais rapidamente que eu. Demorar mais para encadear a via fez meu ego se sentir menos importante do que David.
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O ego pode ser traiçoeiro. Ele pode criar desculpas para demorar mais em conseguir a cadena. “Eu sou mais velho e não escalo ou treino com tanta frequência como eu fazia quando era tão jovem quanto David”. O ego também pode se perder no conforto do logro. “Eu demorei mais, mas pelo menos eu consegui encadear a via”. De qualquer forma, o ego busca motivos para manter sua importância.
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Os fatos que o ego usa são verdadeiros. Eu sou mais velho que David; eu levei mais tempo para encadear; eu consegui encadear. O ponto não é se os fatos são ou não verdadeiros. E sim que eles não são relevantes para melhorar meu desempenho e aprendizagem. Nossa atenção está focada nas necessidades do ego em vez de aprender e aproveitar a experiência da escalada.
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Precisamos estar atentos com o ego. O conforto de atingir metas cria associações que o fortalecem e camuflam uma aprendizagem importante. Igualar nossa importância com nossa habilidade de atingir metas é uma proposta de derrota. Se temos sucesso com uma meta, então precisaremos de outra meta atingida para poder nos sentir importantes. Se falharmos, então nossa atenção será distraída com a frustração e justificativas para manter nossa importância. De qualquer forma, o apego de nosso ego com o sucesso nos faz sentir dependentes de continuar obtendo sucesso, distraindo nossa atenção da aprendizagem e de aproveitar a escalada.
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Para sermos eficientes com a forma como usamos nossa atenção, precisamos de consciência. Primeiro, devemos perceber que nosso ego nunca está satisfeito, não importa quantas vezes obtivermos sucesso. Ele sempre precisa atingir outra meta para se sentir importante. Esta necessidade de obter êxito constantemente cria um sentimento de ansiedade. Em segundo lugar, a partir de uma base pragmática, percebemos que o ego distrai nossa atenção da aprendizagem. Se queremos atingir metas, então é importante focar nossa atenção na aprendizagem. Isto nos ajudará a aprender mais rapidamente para poder atingir nossas metas.
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O resultado que criarmos pode ser estressante ou confortável. Agimos com consciência nos resultados estressantes, focando nossa atenção na aprendizagem. Cada resultado nos dá uma informação importante. Portanto, permanecemos curiosos sobre o que podemos aprender dos resultados que não estão de acordo com nossas expectativas.
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Também agimos com consciência nos resultados favoráveis, como quando conseguimos atingir nossos objetivos. Cada logro nos dá oportunidades de perceber a necessidade do ego de sentir-se importante e apegar-se à logros contínuos.
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Eu deveria ser capaz de encadear uma via só porque o David o conseguiu? Talvez, ou talvez não. O que é importante para sermos saudáveis mentalmente é perceber que a questão se origina do ego. É uma distração de atenção da aprendizagem e de aproveitar a escalada. Percebemos tais pensamentos do ego e trazemos nossa atenção de volta para o que precisamos aprender com os resultados que criamos. Fazer isso nos ajudará a aprender mais rapidamente. E teremos mais prazer com nossa escalada.
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